Tentei imitar a balada do John e da Yoko
Mas me dei conta de que essa Yoko não tem um John
Quis escrever como Machado de Assis ou Eça de Queirós
Mas não sou realista o suficiente, e, mesmo o negando, ainda
acredito no romantismo
Ensaiei um soneto no estilo de Gonçalves Dias
Mas meu sarcasmo aniquilou com as rimas e com as palavras de
amor
Fitei a enseada como o fizera Rubião em Quincas Borba
Mas minha paixão por Machado me lembrou que não era Rubião,
tampouco Capitu ou Brás Cubas, e isso me alertou para o fato de que sempre
serei eu mesma
Amei como muitos já amaram, e estou apaixonada por muitos,
homens e mulheres
Mas todos trazem à tona, em um ou em outro momento, o que
preciso mudar em mim, pois nunca serei perfeita
Convenci-me de que o acaso não é mais do que uma
coincidência, um fato insignificante
Mas nunca deixei de acreditar no destino
Olhei para todas as pessoas sós e percebi um fato simples:
todas perseguimos alguma coisa
Mas como conseguiremos atingir nossos objetivos e o quê
buscamos, nem mesmo isso o sabemos
Acabei me deparando com esse poema de versos simples e rimas
inexistentes
E notei que não preciso pensar em uma coisa ou em outra, com
um "mas" no meio
Dessa forma, fico no meio-termo da vida, tentando ser comum
sem me tornar igual
Sou desenformada, etérea, fluida, intangível
Sou aquilo que não tem definição, cujas palavras não
simbolizam a essência
E busco justamente aquilo que as palavras não conseguem
inscrever em si mesmas
E assim somos todos, iguais perante a lei, diferentes entre
nós mesmos
Buscamos saciar nossos desejos e completar a nossa eterna
incompletude
Finalizando, se leste as notícias hoje, saberás que tudo
permanecerá assim
Letras, músicas, pessoas não preencherão esse vácuo: é
justamente ele que nos mantém vivos